quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

8/5/2006 08:26:18 PM




ESPERANÇA NÃO É ILUSÃO

Do Consultório Poético

Pintura/Colagem de Joseph Cornell

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Fabrício Carpinejar





"Lancei-me numa grande empreitada: buscar a felicidade plena dentro de mim. Desisto, desisto, parece que quanto mais me relaciono mais me 'ferro', mais me angustio e mais acredito que todos os homens fazem parte de um bando de cafajestes com os hormônios borbulhando, de uma conspiração em alto escalão para destruir o gênero feminino e suas ambições líricas. O meu último relacionamento contribui forçosamente para que eu chegasse a essa conclusão. Primeiro descobri de cara que o 'meu príncipe' já tinha uma(s) princesa(s). Tentei contornar a situação e defini-lo apenas como um 'rolinho' sem importância, que fosse então o quebra-galho. Mas definitivamente não dá. Eu sou do tipo de pessoa que se entrega por completo e que se sente saciada, não preciso sair por aí experimentando um e outro. Basta o carinho, o amor e a atenção de um!


O problema, Carpinejar, é que me sinto o patinho feio, sabe, não me acho nem um pouco suficiente para despertar a curiosidade dos espectadores, e quando encontro um cara que me enche de elogios e me satisfaz sexualmente já tá legal. Não sou tão exigente! Mas não consigo encontrar ninguém e estou num estado de dormência. A cada instante quero me apaixonar para o resto da minha vida, pelo porteiro, pelo motorista do ônibus, pelo operador de fotocopiadora, e assim por diante!


Mas voltando ao dito cujo, não me livro dele porque não quero ficar sem essa esmola de afeto, sabe, não consigo me desvincular porque, mesmo sabendo dos seus interesses, ele me proporciona o mínimo de atenção que desejo.


Não está legal assim, mas me sinto tão envolvida por meus sonhos, ultrapassados de tão românticos que são, que deposito nele a esperança de um dia ser amada monogamicamente. Eu me identifico por completo com a personagem Bridget Jones. Me diz algo por favor!


Grande e ternuroso abraço pra você, te admiro demasiadamente!"



Olá, Laura!


Os homens não são um bando de cafajestes. Podem ser cafajestes, mas individualmente. Não estão associados a nenhum clube ou sindicato. Necessitamos tomar cuidado para que uma frustração não sirva para generalizar e que uma fobia não se transforme em paranóia.


Acho que você foi apequenando sua expectativa: transformou o príncipe em rolinho e depois em quebra-galho. Reduziu sua própria vaidade. Hoje é capaz de aceitar qualquer coisa quando não é qualquer coisa que a satisfaz. Já tem bem resolvido qual é o sonho de companhia - e isso não se negocia: amar monogamicamente, continuar romântica, receber a dedicação de um olhar como se brincava na infância com lupa a queimar o mundo microscópio de ervas e formigas. Um homem, enfim, que tenha palavra para inventar o mundo contigo.


É natural que, ao diminuir o desejo pelos outros, esteja diminuindo o desejo por si. Tornou-se um patinho feio, porque se viu encurralada e sem condições de decidir. O que vier é lucro, dessa forma virou sua vida. Não é uma esmola que a fará bonita. Mostra mais carência do que escolha. "Carência" aceita todo figurante e o promove a protagonista. Quer apenas aplacar a necessidade física e erótica. Aumenta o bocado de atenção que recebe com a fantasia. "Escolha" envolve compromisso e doação. Somos muito mais do que queríamos no início e não menos do que recebemos.


Não insista nessa esperança com ele. Isso não é esperança, é ilusão. Vejo que tem chance de se apaixonar pelo resto de sua vida, desde que nunca seja um resto, como acontece hoje.


Pode mandar cartas com suas dúvidas de relacionamento para carpinejar@terra.com.br

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