O MAR É UM CAVALO BEBENDO A SI MESMO
Da série MINHA INFÂNCIA NÃO ATRAVESSA A RUA SOZINHA
Gravura de Rufino Tamayo
Fabrício Carpinejar
Minha maior loucura é não depender da loucura para ser feliz. Eu me lembro que na infância não usava bico e cuspia o leite. Eu não me lembro, assim me contam e fiz de conta que sei para não ser um estranho diante da própria vida. Sou um sonho de minha carne. Só me lembro que eu não largava um pano, uma fralda, que eu chamava de Lelé. Sujava e não queria lavar. Tinha cheiro de árvore. Não dormia longe dela. Era uma espécie de consulado do meu sopro, me cuidando para não apanhar da asma. Sofria do medo de não ter som para a voz. Espumava espanto. Minha raiva era ternura sem tempo para falar. Eu suspirava bastante. Suspirar é quando a respiração toma banho. Eu pisava nas poças de propósito. Os sapatos chapinhavam música. Ficava com febre e não ia para escola no dia seguinte. Fui sempre rápido como um cão. Troquei o nome por um assobio.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário