quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

4/10/2006 06:20:44 AM

Jornal Zero Hora, Segundo Caderno, 10/4/06





O AMOR É PROSA

O poeta Fabrício Carpinejar autografa hoje livro de crônicas


CARLOS ANDRÉ MOREIRA





Um dos nomes mais significativos da nova geração de poetas nacionais, Fabrício Carpinejar autografa hoje, a partir das 19h30min, sua estréia em prosa ainda com um pé na poesia.


O Amor Esquece de Começar (Bertrand Brasil, 288 páginas, R$ 35), de Fabrício Carpinejar, é uma reunião de 113 crônicas sobre aspectos diferentes do amor, escritas na linguagem lírica de imagens inusitadas característica da poesia do autor.


O lançamento será precedido por um debate com os cronistas David Coimbra e Martha Medeiros e pela leitura de textos feita pelo próprio Carpinejar e pela radialista Kátia Suman. Acostumado à concentração exigida da poesia, na qual cada palavra tem peso diferente e as relações entre os versos são deixadas mais livres à associação do leitor, Carpinejar confessa que penou um pouco até domar a concatenação mais rígida da crônica.


- A prosa é como correr maratona, tem de correr no ritmo certo, se der um pique, tu perde a corrida - comenta o autor.


As crônicas são inéditas em livro, mas já haviam sido publicadas no blog (página pessoal na internet de atualização simplificada) que Carpinejar mantém desde 2003 no endereço www.carpinejar.blogger.com.br. Site feito nas horas vagas mas ao qual Carpinejar tem se dedicado de tal modo que há uma crônica nova a cada dois dias, no máximo.


Os textos de O Amor Esquece de Começar passeiam por diferentes estágios da vida amorosa: o ciúme, o convívio, a conquista, o encantamento, a separação, as manias do homem, as manhas da mulher. Em todos, a prosa do poeta é invadida pela poesia na maneira original de transformar detalhes em conceitos. Como em "Os ouvidos são círios boiando na água. Flutuam em vozes conhecidas para manter a calma" ou "use a memória das roupas mais do que as próprias roupas". Um o-lhar poético permanente que o autor concordou em exercitar na entrevista ao lado. Carpinejar admite que às vezes ficou indeciso se uma crônica não ficaria melhor como poema.


- Acho que sacrifiquei uns bons poemas nesses textos. Mas foi um sacrifício que valeu a pena - define.


"EX-AMOR NÃO EXISTE"


Fabrício Carpinejar aceitou o desafio de responder à seguinte entrevista por e-mail, com respostas breves sobre temas de seu livro: o amor e as formas de cantá-lo


Zero Hora - Ama-se melhor em prosa ou poesia?

Fabrício Carpinejar - A poesia é mais música, fácil de despir. A prosa é mais conversa, fácil de vestir. Eu arrebento os botões da camisa com a poesia e os recolho com a prosa.


ZH - O que dói mais que dor de amor?

Carpinejar - A morte de um filho. Nem sai o grito de tanta dor. Um corpo não é suficiente para dar conta do sofrimento.


ZH - Qual o contrário do amor: ódio ou indiferença?

Carpinejar - Indiferença, que é a iniciação ao desprezo e arrogância. O ódio é um amor desorganizado, reprimido, infantil. A indiferença é a própria ausência de amor. Perde-se a vontade de se apaixonar pelo outro porque se perdeu antes a vontade de se apaixonar por si.


ZH - Existe um ex-amor ou o amor nunca esquece de terminar?

Carpinejar - O amor finge que morre para fazer escândalo. Ele separa para chamar atenção. Ex-amor não existe, o amor fica contigo, existe ex-marido ou ex-mulher, que são amores despersonalizados. Quem já se separou sabe bem o que é desencarnar.


ZH - Qual a melhor das pequenas coisas da vida a dois?

Carpinejar - As tampinhas de leite na pia da cozinha. Tocar os pés no meio da noite. Tomar sorvete sem colher. Pensar no varal fora de casa. Abraçar-se no corredor como uma porta do quarto. Encontrar um brinco no tapete. Brincar de casaco no frio do cinema. Arrumar as gavetas para reencontrar os bilhetes do namoro. Dizer "eu te amo" dormindo. Ir para o trabalho com os farelos do pão grudados no cotovelo. Sair sem querer sapecado de gloss nos lábios.


ZH - Como seria a primeira frase de uma crônica sobre como os homens vêem o amor hoje?

Carpinejar - Era para ser apenas um pote de requeijão. Custou R$ 2,98. Mas na primeira lavada o rótulo descolou. Aquele novo copo pedia mais uma boca na mesa.


Serviço

O QUE: autógrafos de O Amor Esquece de Começar (Bertrand Brasil, 288 páginas, R$ 35), de Fabrício Carpinejar, com leitura de trechos e participação de Kátia Suman, Martha Medeiros e David Coimbra.

QUANDO: hoje, às 19h30min

ONDE: Livraria Cultura do Shopping Bourbon Country (Túlio de Rose, 80, fone 51 3028-4033)


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