quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

3/27/2006 05:33:34 PM




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QUERO ME LIVRAR DA VIRGINDADE

Desenho de Paula Modersohn-Becker


Fabrício Carpinejar






"ai, Fabrício;


Desde a pré-adolescência tenho problemas em aceitar quem eu sou, como sou, especialmente fisicamente; sou cheia de complexos. Tanto que aos 22 anos ainda sou virgem! E muito mal-resolvida quanto a isso. Tenho melhorado aos poucos minha auto-estima, mas, embora ainda não me sinta preparada, sinto urgência em perder minha virgindade, mesmo estando completamente sozinha (nunca tive um namorado). Tenho planos de me entregar para um desconhecido, para "resolver o problema", na crença de que só então poderia me envolver em algum relacionamento com alguma segurança. Porque morreria de vergonha de confessar para algum dos rapazes que hoje me interessam, caso rolasse algo entre a gente, a minha virgindade e inexperiência, pelo simples fato de já me conhecerem, serem do mesmo meio que eu. Sei que é doentio, mas prefiro esconder, "resolver" antes. Minha vida é uma eterna espera de um tornar-se apta, que nunca vem. Queria que fosse diferente, mas minha obsessão é como uma fatalidade. O que fazer?"



Teresa,


Com o fim da virgindade, diferente do homem, a mulher parece que perde a infância e uma parte de si. É um jogo cultural insignificante, uma disputa de poder inútil.


A virgindade é apenas um tabu, não faz a menor diferença quando se ama alguém. É de menos para os apaixonados, que saberão partilhar as experiências e conduzir a respiração ao seu ritmo natural. Seu medo é confessar? Mas confessar o quê? Não ter transado não é crime. Crime é fazer de conta que os sentimentos não pesam nas decisões.


Não diga nada, a vida precisa de mais capítulos e menos prefácios e explicações. Que a virgindade não seja escudo para afugentar ou precipitar relacionamentos. Que não seja um amuleto ou uma desvalia. Todos passaram por isso. Não faça dela uma oferenda e um ritual. Ela é e será sempre uma atriz coadjuvante (seu desejo é a atriz principal).


No calor de um namoro ou na queda das primeiras peças, não seja dramática e diga: sou virgem. Exagerar a importância intimida o homem, não traz intimidade. Não transfira a responsabilidade para ele. Tenta curtir e aproveitar a palpitação. É uma viagem pessoal. Só sua.


A virgindade não é uma doença para se curar. É uma etapa da formação da identidade. Dispense a noite perfeita, porém não abra mão de uma noite verdadeira com quem se importa contigo.


Não me entregaria para qualquer um. Não irá resolver seu problema. Se você quer se livrar logo da virgindade, está realizando o endeusamento do hímen. Sendo mais conservadora do que quem pretende se guardar para o casamento. Importa-se tanto com o que os outros pensam que não consulta seus próprios pensamentos. Sexo é bom, gostoso, mas depende de uma dose de carinho e outra de compreensão para libertar as fantasias. Um desconhecido pode aumentar seu complexo e retrair o gosto. A primeira transa é decisiva, envolvida de expectativa e apreensão. Não anulará o nervosismo cedendo para o primeiro que aparece. O nervosismo é até salutar, ajuda o corpo a aproveitar intensamente o peso de outro corpo.


A primeira vez talvez não seja a primeira transa. Conheço muitas mulheres que já transaram e continuam virgens. A primeira vez é o primeiro amor.


Pode mandar cartas com suas dúvidas de relacionamento para carpinejar@terra.com.br

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