quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

2/8/2006 07:55:12 PM




Não há férias para o Consultório Poético. O plantão lírico pode ser lido abaixo e no site da Superinteressante.


45 DIAS

Pintura de Oskar Kokoschka


Fabrício Carpinejar





"Acabei de ler sua coluna no site da revista Superinteressante, o texto: ´Ainda é tempo de viver'.


Achei o texto interessantíssimo, suas palavras foram muito bem colocadas e são uma verdade, muitas vezes para algumas pessoas, por mais que amem o companheiro (a) , deixam os sentimentos virarem rotina, não o demonstram mais como faziam no auge da paixão, no auge da conquista. A partir do momento que o (a) conquistaram acham que já não precisam mais cativar este amor bonito, já esquecem das cortesias usadas no passado, é porque realmente todo o glamour ficou lá atrás, guardado nas lembranças ou até mesmo em uma caixinha fechada a sete chaves, quando na verdade deveriam criar um alicerce forte, capaz de romper todas as barreiras que possam prejudicar o relacionamento, mantendo assim o amor Vivo.


Sabe, sou da cidade de São Bento do Sul, em Santa e bela Catarina, me chamo Deise, tenho 28 anos, namoro há 6 meses um gaúcho da cidade de Canoas, sofremos as dores do amor a distância nos vendo a cada 45 dias + ou - com a distância nos agarrar a família, amigos e ao trabalho para driblar um pouco a saudade que aperta e chega a machucar o peito. Mas o problema maior que venho sentindo é: " Como sustentar este amor que conquistei quando a pessoa amada não corresponde mais com os mesmos estímulos de outrora?


Sei que ele me ama, mas realmente para sobreviver a esta distância o coração pede alguns cuidados, por mais que eu busque ser a mesma pessoa que ele conheceu pela net, sinto que ele está descuidando um pouco dos sentimentos dele. Nos conhecemos através de um bate-papo, no qual ficamos amigos durante um tempo até que o amor nos aflorou a alma, e decidimos nos encontrar pessoalmente e iniciar um namoro.


Naquele tempo tudo era um mar de rosas, e-mails para cá, e-mails para lá, realmente eram cartas de amor que são vistas em livros de muito romance de séculos passados, temos todas guardadas que um dia até pensávamos em escrevê-las em um livro, por tamanho sentimento ali demonstrado, o qual eu achava que perpetuaria por está jornada da ausência. Mas hoje, quando peço a ele para tentar voltar a escrever um e-mail ou outro da mesma forma que fazíamos antes, para amenizar um pouco a saudade, ele diz: 'mas escrever o quê?'


Por que para conquistar usava dos mais belos recursos trazidos do fundo da alma, quando para mantê-lo vivo já não consegue mais se expressar? Será que o alicerce construído no início do namoro se mantém sólido?"



Anelise, ele se acostumou a amar. E não há pior forma para deixar justamente de amar. Quando se conclui que não se precisa mais prender a atenção da interlocutora, que tudo foi dito e confidenciado, que o melhor passou. Algum osso quebrou e não foi reintegrado ao seu lugar de origem.


O amor supera o período da novidade para se prolongar em interesse permanente. O que aconteceu foi uma doida paixão, uma entrega urgente e faminta que é própria da paixão. O amor exige mais do que hormônios, mais do que desejos, mais do que tesão. O amor exige continuidade, persistência e vontade. Não se ama sem disciplina, sem o ânimo para superar as adversidades. Em contrapartida, é possível se apaixonar sem nenhum esforço. A paixão começa fácil, mas acaba com igual fugacidade. O amor demora para se impor e também para terminar.


Na virtualidade, escrever é o equivalente a beijar. Se não há o que escrever, não há vontade de beijar, de tocar e de fazer explodir o espaço entre as palavras. Assunto não falta. Basta contar como foi o dia, confiar as preocupações, expor o que está se sentindo, detalhar as vontades secretas. Para um amante, qualquer coisa é motivo de confissão e jura. O amor não varre as migalhas, junta todas debaixo do cotovelo.


A monotonia surge no momento em que o entusiasmo se transforma em obrigação. Escrever para você e telefonar estão cheirando a formalidades, quando deveriam aparecer como descobertas.


Ele deve saber que a fase da conquista não terminou, nem terminará, tanto que você percebeu a mudança de comportamento e a ausência de estímulos e exige a revalorização. Onde foi parar o ímpeto dele? Para outras amizades? Não se pode sair de férias e deixar a planta à míngua. O amor não sobrevive sem que os dois estejam dispostos a fortalecê-lo. O amor já é casamento desde o início.


Pode mandar cartas com suas dúvidas de relacionamento para carpinejar@terra.com.br

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