quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

2/17/2006 09:56:55 AM

AMOR GAY

Pintura de Jasper Johns


Fabrício Carpinejar





Não suporto assistir filmes ou ler em livros que as revelações homossexuais estejam relacionadas a traumas na infância e adolescência. Sempre que aparece uma personagem gay, a narrativa justifica sua conduta com problemas e crises pessoais. Uma desculpa para a sensibilidade exagerada, um salvo-conduto para explicar a aproximação e envolvimento com pessoas do mesmo sexo. Perdeu os pais cedo ou apanhou quando criança ou sofreu com uma mãe castradora ou foi seviciada ou abandonada, a sugerir que ser gay não é uma escolha, mas castigo. A tese é que o homem e a mulher não estão bem resolvidos, portanto encontram um desafogo na homossexualidade. Não se percebe que se reforça um preconceito. Colocam os gays como sofredores natos, distorcendo sua franqueza sob a forma de bloqueio. Transmite-se a idéia de que a homossexualidade é antinatural, quando antinatural é não amar.


É fácil a sensibilização pela dor, o que falta é a sensibilização pelo entusiasmo. Não estamos no mundo para sofrer, legado da visão da igreja, que criou o purgatório para assustar e firmar a dependência pelos pecados. Justamente os homossexuais ainda não foram tirados do purgatório. Recebem imagem negativa e resignada, como se a homossexualidade fosse uma doença psicológica desencadeada a partir de lembranças. Suas vivências estão associadas à desconfiança e à suspeita. Por que esconder as virtudes dos relacionamentos homoafetivos?


Isso é censura. Censura velada, clandestina e não menos violenta. Não adianta falar de gays para se dizer avançado, é necessário apresentar casais de gays com alegria, senão será retrocesso e mentira. A sociedade carece cada vez mais de fluoxetina.


No fim das contas, não se respeita a liberdade sexual. Se é liberdade não é condicionamento. Se é liberdade não é resultado de recalque e frustração. Liberdade é independência, afirmação de gosto, eleição de princípios.


A realidade não é reproduzida, filmada, dita, escrita. Tenho amigos gays com pais felizes, infâncias felizes, cercados de amigos e sem nada de desastroso e trágico para contar de suas vidas. São amorosos porque conheceram o amor desde o princípio. Os familiares sentem orgulho deles e apóiam qualquer uma de suas decisões ao longo do tempo. Não têm nenhuma confissão escabrosa a relatar. São espontâneos e vívidos e amam quem eles querem com devoção. Amam para devolver o amor que receberam, e nunca para vingar a ausência de amor.


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