UM PATINHO MUITO FEIO
Carpinejar lança "Filhote de Cruz-Credo"
PATRÍCIA ROCHA
Rodrigo Rosa ilustrou a saga de apelidos do escritor e poeta Fabrício Carpinejar
Foto: Rodrigo Rosa, reprodução/ZH
Placenta, Cara de Morcego, Panqueca. O dono destes e de muitos outros apelidos não se deixou levar pelas piadas dos colegas de escola. Depois de um tempo de maturação, em que mal saía da sala de aula no recreio, o poeta e escritor Fabrício Carpinejar decidiu mostrar a cara para quem fazia troça da sua aparência: - Tem gente que coleciona borboletas, eu coleciono apelidos. Nasci com uma careta, não tem o que fazer.
Fabrício aprendeu a rir de si mesmo. Cresceu e transformou o dilema da infância em uma história bem-humorada para todo mundo que dá e recebe apelidos: o livro Filhote de Cruz-Credo, que ele lança amanhã, em Porto Alegre.
- Apelido tem que ser como doença de infância. Dá uma vez e depois passa - ensina.
A doença de Fabrício começou quando era pequeno. Um dia, saiu do banho, olhou-se no espelho e desconfiou que não parecia tão bonitinho quanto o pai e a mãe diziam. Na escola, veio a certeza: até a guria de quem gostava aderia aos apelidos.
- Não posso tolher a criatividade do outro. Dar apelido é uma forma de fazer poesia. Mas quem recebe o apelido não deve ficar quieto esperando o advogado. Ele é o próprio advogado - afirma. - Quando descobri que poderia dar apelidos também, acolhi melhor os meus.
Dos tempos de escola, sobrou um apelido - Bito, abreviação de Fabito, que era como Fabrício se chamava. Mas, de vez em quando, topa com um amigo de infância que diz:
- Panqueca!
Fabrício gosta, diz que cada apelido conta um pouquinho da sua história, que terminou em poesia, crônicas e nesta narrativa infantil, que rima com a beleza das ilustrações de Rodrigo Rosa.
- Hoje, tenho certeza de que o fato de eu ter sido feio me fez procurar a beleza - diz o poeta. - Sei que a beleza não está em mim, busquei-a no outro.
Trecho
"Nunca pergunte o motivo do apelido. Nunca. A resposta pode ser pior do que imaginava. Eu cometi o erro e perguntei.
Aproximei-me de Alice. Ela zombou de novo.
- Quer mesmo saber?
- Sim, quero.
- Ué, não reparou que sua cara é toda amassada?"
O QUE: lançamento e sessão de autógrafos do livro Filhote de Cruz-Credo, de Fabrício Carpinejar, com ilustrações de Rodrigo Rosa, editora Girafinha, 40 páginas
QUANDO: neste sábado (16/12), às 17h
ONDE: na Livraria do Arvoredo (Félix da Cunha, 1.213, fone 3268-6535)
QUANTO: preço sugerido de R$ 27
(ZERO HORA, SEGUNDO CADERNO, PG. 10, Porto Alegre, 15/12/06. Edição nº 15089)
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
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