
AMOR NA GRAVIDEZ
Do Consultório Poético
Pintura de Gustav Klimt
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Fabrício Carpinejar
"Fabrício,Em primeiro lugar, gostaria de dizer que adoro seu blog, coloquei-o como favorito e acesso toda semana para alimentar minha alma.
Resolvi te escrever para uma "consulta poética", pois estou em um momento da mais pura inspiração: estou grávida (12 semanas), segunda gestação (tenho uma filha linda, de 6 anos), mas desta vez está tudo tão diferente. Tenho me sentido extremamente triste (não era pra ser o contrário?), apesar de não ter parado com minhas atividades (nem profissionais, nem pessoais). Às vezes me pego cobrando atenção do meu marido, não o vejo "babando" por mim ou pela gravidez, não recebi nenhuma cartinha dele de alegria pelo novo fato (e olha que já estávamos 'tentando' há mais de um ano e meio), será que estou querendo demais?
Ele recebeu a notícia com a maior alegria, e às vezes pra puxar assunto pergunta se eu já pensei em algum nome, mas é o máximo de manifestação! Não sei se fiz mal, homens têm a mania de termos de explicar tudo o que queremos (até o que nos parece óbvio) e foi isso que fiz: pedi a ele que se expressasse mais, que me escrevesse algo, mas foi tudo em vão.É claro que cada um tem um temperamento diferente, eu sou mais sensível, enquanto ele é mais prático, mas você não acha que a gestação era pra 'quebrar' todos os gélidos 'muros individuais'?"
Olá, Cristina
A gravidez aumenta a sensibilidade. A audição, o tato, o gosto. É uma TPM do bem. Fica-se mais generosa e afetiva. Mais inteira. A alegria e a tristeza aparecem com intensidade redobrada. Tempo de solidão, em que os acontecimentos são interiores e imperceptíveis. Um calafrio e chute no ventre, um enjôo, uma vontade de comer algo estranho, uma lembrança inusitada. Como explicar que isso é importante para ele?
É o mesmo que discursar no almoço sobre o carregamento de folhas pelas formigas perto da chuva. São fenômenos poéticos e musicais, próprios de uma atmosfera de encantamento. Reverenciam-se os pressentimentos e as premonições. A mulher grávida é uma profecia.
Durante o período, a gestante é um ser da invisibilidade. Valoriza os sentimentos, as vésperas das roupas, os detalhes, o tom da pronúncia, os rituais de cortejo e de carinho. Repara na melodia, enquanto o seu companheiro procura a letra. O homem é um animal da visibilidade.Presta atenção somente na escolha do nome, na identificação do sexo, quando a barriga cresce. Naquilo que é enxergado. Diria mais: a mulher é grávida por toda a vida; o homem, unicamente nos nove meses.
É natural sua cobrança para que seja mais assistida, mas ele não entendeu o que vem acontecendo. Pensa que é mais uma etapa da vida do casal, como o namoro, o casamento, a ascensão profissional, a compra da casa. Se ele é prático, não vai mudar na gravidez. Será inútil fazer roteiros turísticos pela sua imaginação. Mudará assim que nascer a criança. O filho oferece tudo o que o homem não entendeu de sua mulher antes. Temo que possa sofrer um desgaste maior na estima depois do nascimento do bebê. Já que o bebê tende a absorver a atenção, colocando a mãe em segundo plano.
Alguns homens acreditam que estão perdendo a mulher para a gravidez, outros acreditam que ganham a mulher com a gravidez.Talvez seu marido seja o primeiro caso e não perceba que ele também está grávido. Ainda não caiu a ficha.
Pode mandar cartas com suas dúvidas de relacionamento para carpinejar@terra.com.br

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