quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

10/7/2006 09:40:27 AM




AMOR NA GRAVIDEZ

Do Consultório Poético

Pintura de Gustav Klimt

Confira outras consultas no site da Superinteressante


Fabrício Carpinejar


"Fabrício,

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que adoro seu blog, coloquei-o como favorito e acesso toda semana para alimentar minha alma.


Resolvi te escrever para uma "consulta poética", pois estou em um momento da mais pura inspiração: estou grávida (12 semanas), segunda gestação (tenho uma filha linda, de 6 anos), mas desta vez está tudo tão diferente. Tenho me sentido extremamente triste (não era pra ser o contrário?), apesar de não ter parado com minhas atividades (nem profissionais, nem pessoais). Às vezes me pego cobrando atenção do meu marido, não o vejo "babando" por mim ou pela gravidez, não recebi nenhuma cartinha dele de alegria pelo novo fato (e olha que já estávamos 'tentando' há mais de um ano e meio), será que estou querendo demais?


Ele recebeu a notícia com a maior alegria, e às vezes pra puxar assunto pergunta se eu já pensei em algum nome, mas é o máximo de manifestação! Não sei se fiz mal, homens têm a mania de termos de explicar tudo o que queremos (até o que nos parece óbvio) e foi isso que fiz: pedi a ele que se expressasse mais, que me escrevesse algo, mas foi tudo em vão.É claro que cada um tem um temperamento diferente, eu sou mais sensível, enquanto ele é mais prático, mas você não acha que a gestação era pra 'quebrar' todos os gélidos 'muros individuais'?"



Olá, Cristina


A gravidez aumenta a sensibilidade. A audição, o tato, o gosto. É uma TPM do bem. Fica-se mais generosa e afetiva. Mais inteira. A alegria e a tristeza aparecem com intensidade redobrada. Tempo de solidão, em que os acontecimentos são interiores e imperceptíveis. Um calafrio e chute no ventre, um enjôo, uma vontade de comer algo estranho, uma lembrança inusitada. Como explicar que isso é importante para ele?


É o mesmo que discursar no almoço sobre o carregamento de folhas pelas formigas perto da chuva. São fenômenos poéticos e musicais, próprios de uma atmosfera de encantamento. Reverenciam-se os pressentimentos e as premonições. A mulher grávida é uma profecia.


Durante o período, a gestante é um ser da invisibilidade. Valoriza os sentimentos, as vésperas das roupas, os detalhes, o tom da pronúncia, os rituais de cortejo e de carinho. Repara na melodia, enquanto o seu companheiro procura a letra. O homem é um animal da visibilidade.Presta atenção somente na escolha do nome, na identificação do sexo, quando a barriga cresce. Naquilo que é enxergado. Diria mais: a mulher é grávida por toda a vida; o homem, unicamente nos nove meses.


É natural sua cobrança para que seja mais assistida, mas ele não entendeu o que vem acontecendo. Pensa que é mais uma etapa da vida do casal, como o namoro, o casamento, a ascensão profissional, a compra da casa. Se ele é prático, não vai mudar na gravidez. Será inútil fazer roteiros turísticos pela sua imaginação. Mudará assim que nascer a criança. O filho oferece tudo o que o homem não entendeu de sua mulher antes. Temo que possa sofrer um desgaste maior na estima depois do nascimento do bebê. Já que o bebê tende a absorver a atenção, colocando a mãe em segundo plano.


Alguns homens acreditam que estão perdendo a mulher para a gravidez, outros acreditam que ganham a mulher com a gravidez.Talvez seu marido seja o primeiro caso e não perceba que ele também está grávido. Ainda não caiu a ficha.


Pode mandar cartas com suas dúvidas de relacionamento para carpinejar@terra.com.br

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