Pintura de Miró
por Fabrício Carpinejar

Minha filha, colocar
o pulôver em ti é uma arte.
A cabeça não entra na gola.
Puxo com força, já receoso
de raspar teu rosto.
Será que termino
ou desisto e escolho outra roupa?
Naquelas frações de segundos
em que permaneces coberta,
no escuro de estopa,
na solidão do tecido,
queima na língua a possibilidade
de tua ausência e, sem que entendas,
te ofendo com raiva
de tanto amor desajeitado.
Poema publicado na revista Cortiça.
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