sexta-feira, 2 de janeiro de 2004

PREFIXO 2003. NEM FELIZ NEM TRISTE

Fui tomar um táxi no último do ano. Depois de uns dez minutos do trajeto, o motorista me chama pelo sobrenome. "Não me reconheces, Nejar?" Eu disse que demoro para me reconhecer a cada ano que passa. Ele riu. Pensei que não insistiria. O humor é uma maneira de dizer a verdade com educação. Pouco fez efeito, ele replicou: "quando encontramos alguém conhecido no lugar em que não esperamos, é natural não reconhecer". Era uma lição. Se eu visse minha mãe andando de skate, não iria identificar. Mas quem era ele? Algum personagem cobrando um verso mal formulado? Cansado de minha falta de ar na memória, avisou que foi meu professor de primeiro grau. A barba havia dificultado a relação. Seu rosto era mesmo uma sala de aula, um apagador, quadro verde e giz de cera. Desci desajeitado para a contagem de 2004. Primeira vez que paguei uma corrida a um professor. Não me senti bem. Violentei a infância. Infelizmente pertenço a um tempo em que dar aula é fazer bico quando tinha que ser todo pássaro. Ele agora conduzia destinos de um outro jeito. Não era feliz nem triste. Nem água muito menos vapor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário