A partir de uma aquarela de Elizabeth Bishop
Fabrício Carpinejar
Um quarto vesgo,
flutuante, vago.
Porão de lembranças
mais vistas quando guardadas.
Vagas demoradas na escotilha,
rápidas em sua lentidão de mover a superfície.
Arrumo meu abandono
ao próximo hóspede.
Não moro em nenhum lugar
que não seja o susto
de perder uma relíquia, um amor, o desastre.
Há coisas que não aprendem a ficar
mesmo com a insistência das cinzas.
As malas ao lado da cama
sempre derradeiras
em selecionar o que basta na pele.
As roupas imprecisas ao tato,
escassas no excesso.
O ventilador, as cortinas pretas, as flores brancas,
tudo é orvalho silente, brevidade ardente,
escândalo do silêncio.
O navio está incendiando
e ninguém me avisa,
muito menos
o meu corpo.
quarta-feira, 7 de janeiro de 2004
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