Deu no jornal Amazônia, Belém (Pará), caderno Variedades, 19/01/04:
A poesia sempre necessária
Aos 31 anos de idade, ele é considerado um dos mais importantes poetas brasileiros revelados no final do século XX. Para confirmar essa importância, ressalte-se os prêmios que o nosso poeta em questão já obteve: Fernando Pessoa, 1999, da União Brasileira de Escritores (UBE), Açorianos 2001 e 2002, da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre (RS), Cecília Meireles 2002, também da UBE, e Olavo Bilac 2003 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Fabrício Carpinejar, ou simplesmente Carpinejar, como assina o nome, soma não só na pia batismal os nomes de dois grandes poetas, como herdou deles a poeticidade, e aperfeiçou-se no duro lidar com as palavras, essa "luta vã" de que nos falava Carlos Drummond de Andrade.
Filho dos poetas Carlos Nejar e Maria Carpi, Carpinejar reuniu em "[caixa de sapatos]" (Companhia das Letras, 76 páginas, 2003) poemas extraídos de quatro de seus livros já editados. O livro dá uma mostra da extrema concisão e mundividência da qual é rica a Poesia desse gaúcho. Observem:
As solas do sol
pisavam os olhos.
(página 13);
Abandonar o paraíso
a única forma
de não esquecê-lo.
(página 22);
A claridade não se repete. A vida estala uma única vez.
(página 59)
Podemos acentuar que em Carpinejar a palavra é transfigurada pela pulsação do poeta, pelo sentir dele que, a partir de uma dimensão do sujeito, por sua ótica particular, dá um sentido coletivo a uma experiência singular, a tal "vida que estala uma única vez". Essas descobertas poéticas desse navegador de mil e um mares, que singra sujeito às intempéries da Poesia, são explicitadas pelo uso da síntese que é uma das características do poeta, mas sem deixar que o verso surja insípido, mas sempre eivado de riqueza.
Essa, diga-se, é a singularidade da poética de Carpinejar: sai de si em busca de outrem para compartilhar seu sentimento de mundo.
Alfredo Garcia- Escritor e jornalista.
sábado, 31 de janeiro de 2004
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