quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

5/20/2005 11:28:27 AM

ADULTO AOS CINCO ANOS


Fabrício Carpinejar





Tinha a idade de meu filho Vicente. Três anos. Aniversário de cinco do irmão Rodrigo na casa da avó materna, em Guaporé (RS). Pela cor desnutrida do armário ao fundo, percebe-se que o avô morreu há pouco. A própria vó colheu as rosas em seu jardim para colocar na mesa. Deixou só uma para não esquecer do lugar. Tomávamos Guaraná Polar nos dias de festa. Era o dia. Mas uma tristeza está por debaixo da toalha de linho. Carla, 8, parece que vai colocar todo seu pulmão para fora. Rodrigo escova os dentes com o vento. Vai voar merengue com as velas azuis. Miguel, 1, no colo da avó, é o único que repara na câmera. Ainda de costas, faz um esforço de posteridade. Ninguém deixava pegar meu mano de cachos no colo - boneco muito pesado. Eu me segurei na quina para não cair. A cadeira com almofada tremelicava. Isso me lembro. O medo de cair na hora. O estranho da fotografia é que pai e mãe não estão lá. Na festa do filho. Pela primeira vez, não estão lá. 21 de dezembro de 1975. Não estão em parte. Na mesa, aparece uma foto deles, do casamento. Quem botou o retrato foi a avó. A imagem não olha para a gente. Propositalmente posta em direção à porta. Para dizer que estavam lá. Ou que podiam aparecer a qualquer momento. Era a primeira crise deles e a mãe viajou para reatar com o pai. Não sabíamos o que acontecia. A vó costumava rir ao fazer comida. A comida não gargalhava. Séria com suas curvas de serra e ladeiras do interior. Rodrigo ficou adulto aos cinco anos. E eu, Carla e Miguel foram seus primeiros filhos.

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